Depressão não é doença só de crescidos...



Depressões, ansiedade, medos, pânico, manias. Saiba quais são e como se manifestam as doenças mentais em crianças.

Como surge a depressão numa criança?
A depressão é a doença mental mais frequente e afecta milhões de pessoas em todo o mundo. Uma em cada quarenta crianças sofre de depressão. E se formos para a adolescência, o número sobe para um em cada dez.
É normal uma criança estar triste aqui e ali, com ou sem razão para tal. Isso não é uma depressão, é a vida. Faz parte do ciclo da vida existirem fases melhores e piores e reagir com tristeza a acontecimentos desagradáveis é saudável e mesmo desejável. Uma criança que nunca fica triste não é seguramente uma criança normal.
A verdadeira depressão é uma situação grave em que a criança se sente inferiorizada em relação às outras, com um estado de humor negativo, muitas vezes com sentimentos de culpa. Estas crianças são incapazes de sentir algum prazer ou alegria, mesmo em relação ao que mais gostam. Este tipo de depressão interfere com o dia-a-dia da criança de uma forma marcada, reflectindo-se, por exemplo, numa incapacidade para comer ou dormir.
São muitos os desencadeantes possíveis de uma depressão. A morte de um parente querido, uma mudança de casa ou de escola, os maus resultados escolares ou, nos adolescentes, o fim de um namoro. Muitas vezes estes desencadeantes apenas revelam uma personalidade depressiva que estava escondida e à espera de se mostrar. Uma doença crónica, como a fibrose quística, doença celíaca ou cancro, podem ser a causa de uma depressão. Existe geralmente alguma tendência familiar, pelo que as crianças com familiares chegados que tiveram depressões importantes estão mais sujeitas a esta doença.


Como suspeitar que uma criança tem uma depressão?

--sente-se infeliz sem razão nenhuma aparente

--não sente alegria com actividades que dantes apreciava

--falta de energia para o que quer que seja

--sem vontade de estar com familiares ou amigos

--sensação de ansiedade permanente

--sentimentos de irritabilidade ou raiva

--incapaz de se concentrar

--alteração importante dos hábitos alimentares (muito ou nenhum apetite)

--alteração importante do seu peso (ganho ou perda

--alteração nos hábitos de sono (dificuldade em adormecer à noite ou em se levantar de manhã)

--queixa-se frequentemente de dores no corpo, apesar de não existir evidência de qualquer doença física

--pensa muitas vezes na morte ou suicídio

Como ajudar uma criança deprimida?
A primeira ajuda é os pais não ficarem eles deprimidos. Lidar com a depressão de um filho é uma experiência muito dura. Os pais que estão habituados a tudo fazer pelos seus filhos, a abdicar de tantas coisas para seu benefício, têm dificuldade em lidar com tamanha tristeza sem ficarem tristes e frustrados também. É importante que saibam que a causa de uma depressão nunca é devida a apenas um factor ou acontecimento, pelo que a culpa não é de ninguém. É de um conjunto de causas, entre as quais está a tendência genética de cada um para este tipo de humor.
Em seguida é importante aceitar a situação, sem a minimizar ou exagerar. É o que é e deve ser encarada de frente. Dizer à criança que estamos ali para a ajudar, no que ela precisar. Dizer isto vezes e vezes sem conta pode ser toda a ajuda que um pai ou mãe pode dar.
Por fim, é preciso procurar a ajuda de um profissional. Um psiquiatra infantil (também chamado de pedopsiquiatra) deve ser aconselhado pelo pediatra que habitualmente segue a criança. O psiquiatra vai entrar no mundo da criança ou adolescente e ajudá-lo a ultrapassar essa fase, por vezes com a ajuda de alguma medicação. Em mais de 80% dos casos a depressão pode ser curada e a criança voltar a ter uma vida normal. Por vezes é necessário que o pai ou a mãe (ou ambos) procurem eles próprios acompanhamento e ajuda. Junto de amigos, familiares ou um profissional.


As crianças podem sentir ansiedade?
A ansiedade, em doses normais, ajuda qualquer um. Ajuda-nos a estar alerta e preparados para o perigo. Estimula as nossas capacidades físicas e intelectuais. Quem não se sentiu já ansioso antes de um exame? Ou na véspera daquela entrevista para um novo emprego?
Também nas crianças alguma dose de ansiedade, em determinadas altura das suas vidas, pode ter efeitos benéficos. O problema surge quando essa ansiedade surge de forma despropositada, sem motivo aparente ou, tendo algum motivo, é de tal forma intensa que em vez de estimular, paralisa.
Todas as crianças experimentam alguma ansiedade (saudável) ao longo da sua vida. Os bebés sentem ansiedade diante de estranhos. Com 18 meses as crianças sentem ansiedade se os pais se afastam. A partir dos 5 anos a criança sente ansiedade quando imagina monstros dentro do armário ou fantasmas debaixo da cama à noite. Mais tarde podem sentir ansiedade em relação a muitas outras coisas como do escuro, de ver sangue, de um animal. À medida que a criança cresce alguns medos desaparecem sendo substituídos por outros, mais adequados ao seu grau de desenvolvimento.


Como suspeitar que a criança sofre de ansiedade exagerada?


--está muito nervosa em determinadas situações

--evita determinadas situações

--procura modificar a sua vida de forma a não ser confrontada com aquilo que lhe provoca uma ansiedade exagerada

--tem problemas em adormecer

--tem queixas de dores frequentes, apesar de não existir
evidência de qualquer doença física, como dores de cabeça ou de barriga

--na situação de ansiedade fica com respiração acelerada, pálida e suada

Como ajudar uma criança ansiosa?
Relaxar é a palavra-chave. Acalmar é a obrigação. Mostrar que aquilo que ela sente até é normal, apenas exagerado. Conversar com a criança pode ajudar muito. Estimular a auto-estima é fundamental.
Nunca ser oportunista, o que só ajuda a criança a transformar um medo grande num medo descomunal, tipo-se não comes a sopa sai um monstro do teu armário e leva-te.
Nunca troçar, como -não me digas que tens medo dessa aranha tão pequenina.
Nunca desvalorizar, pois a criança vai sentir-se sozinha na luta com o seu medo e a sua ansiedade (não me interessa nada que tenhas medo de cães). Nunca exagerar. Se a criança tem medo de cães não dar uma volta muito maior para evitar passar num local onde existe um. Isto só dá a entender à criança que o seu medo tem razão de ser.
Nos casos mais resistentes a ajuda profissional, por um psiquiatra infantil, pode ser necessária.

O que é uma doença obsessivo-compulsiva?
Esta é uma forma de doença mental com a qual é muito difícil de lidar. A criança tem pensamentos repetitivos, e, em consequência, adquire determinados comportamentos obsessivos, como se de rituais se tratassem.
As mais conhecidas são as obsessões com a limpeza e a higiene que levam a comportamentos compulsivos como lavar as mãos repetidamente. Outro exemplo é o da arrumação em que a criança parece fanática do arranjo e passa horas a arrumar as suas coisas, vezes e vezes sem conta, sem nunca estar tudo perfeito.
Em todas estas situações a criança não consegue deixar de pensar e agir como se nunca as coisas estivessem a seu gosto, o que lhe provoca, igualmente, grande ansiedade e interfere com a sua vida normal. A repetição de determinada tarefa faz parte crucial do seu dia-a-dia. Em consequência, a criança fica muitas vezes com sentimentos de culpa e frustração porque não consegue controlar os seus pensamentos e os seus actos.
Na maioria dos casos os pais são levados ao desespero e o conselho é que, antes de chegar a esse ponto, discutam o caso com o pediatra. Se necessário, uma ajuda profissional pode ser útil.

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Artigo partilhado da Revista Pais&Filhos --- do professor Paulo Oom (Professor de Pediatria)

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